Nizam

De uma nobre linhagem que remonta ao próprio discípulo do Profeta Muhammad, Abdullah Ibn Masud, o cartógrafo, geografo, historiador, cientista natural, explorador e filosofo Ali al-Masudi (896-956) é considerado por muitos como o "Heródoto dos Árabes", e seu magnum opus "Prados de Ouro e Minas de Gemas" é o mais conhecido de seus 20 manuscritos, contendo uma rica descrição da história islâmica medieval até seu tempo.

Partindo de sua Bagdá natal no Iraque, ele conheceu a Arábia, Síria, Egito, Pérsia, Armênia, Geórgia, navegou o Mar Cáspio, explorou a Índia, Africa oriental e alguns dizem que até mesmo chegou à China. Ele estudou com os maiores intelectuais de seu tempo na vibrante corte dos califas abássidas, e compilou suas viagens dando descrições detalhadas não só sobre questões topográficas, como também politicas das terras que vistou e circunvizinhanças. Contudo, algo bem interessante é encontrado no mapa do mundo conhecido que desenhou.

Escrevendo sobre al-Andalus ou a "Espanha Muçulmana" em 947, al-Masudi nos entrega um relato bem interessante sobre uma navegação ocorrida anos antes em 889:

"No Oceano dos Nevoeiros (Atlântico), existem muitas curiosidades que mencionamos em detalhes em nosso Akhbar az-Zaman (Novidades de Nossa Época). Com base no que vimos lá, existem aventureiros que o penetraram arriscando a própria vida. Alguns voltando em segurança, outros perecendo na tentativa. Deste modo, um certo habitante de Córdoba, Khashkhash, recrutou um grupo de jovens, seus conterrâneos, e singrou este oceano. Depois de muito tempo, ele voltou com ricos espólios. Todos os andaluzes conhecem esta façanha"

Marcando em seu mapa as novas terras além do Atlântico descobertas por Khashkhash Ibn Saeed Ibn Aswad, ele as chamou em árabe de "Ard Majhulah" ou "Terra Desconhecida". O aventureiro de sua história era natural da atual Pechina, perto de Alméria, no sul da Espanha, na época parte do Emirado de Córdoba. O relato de Masudi também é corroborado por fontes chinesas muito posteriores do século XIII da dinastia Song, que falam que no Ocidente, os muçulmanos haviam encontrado as terras de "Mulan Pi".

Historiadores ocidentais, no entanto, desacreditam completamente da historiografia oficial tais relatos. Segundo eles, os barcos árabes da época não seriam capazes de cruzar o Atlântico e voltar, e as terras de Mulan Pi das fontes chinesas são, na verdade, a Espanha, conhecida por todos, e não América, discutindo a tradução e até mesmo se o próprio Masudi acreditava no que narrava. Porém, estes mesmos historiadores aceitam que o viking Leif Ericsson, por volta do ano 1000, pouco mais de 100 anos após Khashkhash Ibn Saeed, ele sim, descobriu a América (ainda que vindo de uma civilização infinitamente inferior em tecnologia de que os árabes da época).

Mas, ninguém melhor que o descobridor da América por excelência, Cristóvão Colombo, para ser juiz do assunto. Ele, quando buscava fontes para empreender sua viagem de 1492, não se dirigiu à Noruega ou Dinamarca para aprender com os descendentes dos vikings, e sim à Granada no Emirado Násrida, onde corrigiu seus cálculos marítimos coincidentemente próximo de onde vivera séculos atrás o explorador muçulmano Khashkhash.

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