Nizam
Fonte: Sa'di, the Poet of Life, Love and Compassion

Abu Muhammad Muslih al-Din ibn Abdallah Shirazi, conhecido por seu pseudônimo "Saadi", foi um grande poeta e prosador persa que viveu na Idade Média (especificamente no século XIII). Ele é reconhecido tanto pela qualidade de seus escritos quanto pela profundidade de seus pensamentos morais e sociais. Saadi é amplamente reconhecido como um dos maiores poetas da tradição literária clássica islâmica, o que lhe rendeu o apelido "Mestre da Fala" ou simplesmente "Mestre" entre os eruditos persas. Ele é amplamente citado em obras ocidentais. Bustan, um livro de poesia de Saadi, é considerado uma das mais importantes e influentes obras da história.

Saadi nasceu em Shiraz, no atual Irã (antiga Pérsia). Diz-se que Saadi nasceu no início dos anos 1200 ou entre 1213 e 1219. Em sua obra "Golestan", composta em 1258, Saadi diz, em versos evidentemente direcionados a ele mesmo, "Ó tu que vivera cinquenta anos e ainda estás adormecido"; outra evidência é que em uma de suas qasidas, ele escreve que deixou sua casa e foi para terras estrangeiras após a invasão dos mongóis à Pérsia, evento ocorrido em 1225. Saadi era um muçulmano sunita.

Saadi nasceu numa família de eruditos muçulmanos e viveu sob tutela de sua avó materna. Ele chegou a narrar uma ocasião em que saía com seu pai, quando Saadi ainda era criança, para participar de festividades onde vivia.

Após deixar Shiraz, se matriculou na Universidade Nizamiyya em Bagdá, onde estudou ciências islâmicas, direito, governança, história, literatura persa e teologia islâmica. Em sua obra "Golestan", ele conta que teve como professor o erudito Abul Faraj ibn al-Jawzi.


Saadi num Jardim de Rosas, retratado no Golestan | Wikimedia

No Bustan e no Golestan, Saadi conta muitas anedotas coloridas sobre suas viagens, apesar de que alguns destes, como sua viagem para a longínqua cidade de Kashgar, em 1213, talvez serem fictícias. A instabilidade que sucedeu a invasão mongol de Khwarizm e do Irã o fizeram viajar por trinta anos através da Anatólia, da Síria (onde menciona a fome em Damasco), e o Egito. Ele menciona, sobre o Egito, seus qadis, os mufits de Al-Azhar, o Grande Bazar, a música e a arte da região. Em Alepo, Saadi integrou um grupo de sufis que lutou batalhas árduas contra os cruzados. Saadi chegou a ser capturado pelos cruzados em Acre, onde passou sete anos como escravo, cavando trincheiras do lado de fora de uma de suas fortalezas. Ele foi libertado pelos mamelucos egípcios, que pagaram resgate para os prisioneiros muçulmanos que estavam sob custódia dos cruzados. 


Saadi sendo recebido por jovens de Kashgar num encontro em Bukhara | Wikimedia

Saadi visitou Jerusalém e fez uma peregrinação para Meca e Medina. Ele provavelmente, nessa viagem, também visitou o Omã e outras regiões ao sul da Península Arábica.

Por causa das invasões mongóis, Saadi foi obrigado a viver em áreas desoladas, onde se encontrou com inúmeras caravanas que temiam por suas vidas naquela que era, antigamente, a vívida Rota da Seda. Saadi viveu em campos de refugiados, onde conheceu bandidos, imames, homens que foram ricos ou que comandavam exércitos antes das invasões. Ele costumava frequentar casas de chá durante a noite e trocava visões e experiências com comerciantes, fazendeiros, pregadores, viajantes, ladrões e faqires. Por vinte anos (ou mais), ele continuou sua vida de pregação, admoestação e aprendizado, aprimorando seus sermões para refletir a sabedoria e as fraquezas de seu povo. As obras de Saadi refletem a vida dos persas empobrecidos e devastados pela invasão mongol em seu sofrimento de deslocamento, agonia e conflito nesses tempos turbulentos.

Saadi também mencionou os coletores de mel do Azerbaijão, com medo de saques mongóis. Eventualmente, retornou para a Pérsia, onde encontrou seus amigos de infância em Isfahan e outras cidades. Em Khurasan, se tornou amigo de um emir túrquico chamado Tughral. Saadi se juntou a ele e seus homens numa jornada até o Sindh, onde se encontram com Pir Puttur, um seguidor do grandsheikh persa Usman Marvandvi. Eles também visitaram outras regiões do Subcontinente Indiano e da Ásia Central.

Ele retornou para Shiraz antes do término da composição do Bustan (ou seja, antes de 1257). Em sua poesia, lamentou a queda do Califado Abássida e a destruição de Bagdá pelos mongóis liderados por Hulagu em fevereiro de 1258. Ao retornar, já devia ter seus quarenta anos. Shiraz estava sob governo de Atabak Abu Bakr ibn Saad ibn Zangi, que vivenciou período de relativa tranquilidade na região. No seu retorno, foi recebido com grandes demonstrações de respeito pelo governante e era considerado um dos grandes homens da província. Alguns dos panegíricos mais famosos de Saadi foram compostos como gesto de gratidão em louvor à dinastia que governava Shiraz e foram colocados no ínicio do Bustan.

Saadi Shirazi provavelmente faleceu entre 1291 e 1294.


Mausoléu de Saadi Shirazi | Wikimedia


Tumba de Saadi | Wikimedia

Referências:

SAʿDI. Encyclopaedia Iranica

The top 100 books of all time. The Guardian.

J.A. Boyle (1977), "Review of: Morals Pointed and Tales Adorned: The Būstān of Sa'dī by Sa'dī, by G. M. Wickens"

Katouzian, Homa (2006). Sa'di, the Poet of Life, Love and Compassion

Muslih al-Dīn Saadi Shirazi. rasekhoon.net

"The Bustan of Sadi: Chapter III. Concerning Love". Sacred-texts.com.

Personal Observations on Sindh: The Manners and Customs of Its Inhabitants ... – Thomas Postans – Google Boeken

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