Nizam
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Introdução

Se considerarmos somente o Kitāb al-Zuhd (O Livro do Ascetismo, parte de uma coletânea de hadiths), é possível concluir que não havia culinária estabelecida na época. No entanto, após um estudo dos hadiths em sua totalidade, fica claro que um estilo culinário havia se constituído, formado pelas oportunidades e necessidades que surgiam no decorrer dos acontecimentos da história profética. Nesse contexto, os utensílios para cozinhar e preparar bebidas tinham um papel central.

Os Pratos

Na época do Profeta Muhammad, pratos de tamanhos diversos eram usados para a alimentação. Entre eles, estavam a dasi'a, a jafna, a qas'a, a maktala, a safha, a faiha e a sukurruja.

A Dasi'a era um prato grande, para servir uma grande quantidade de comida. Vinte pessoas podiam comer nesse prato (Ālūsī, I, 387).

A Jafna era um prato para servir de sete a dez pessoas. Era possível fazer misturas com farinha nesse prato, e também servir sopas e caldos. (Khalīl ibn Ahmad, I, 93; Ibn Sa‘d, I, 388, III, 614).

A Qas'a servia quatro pessoas, já a maktala, de duas a três (Ibn Māja, At‘ima, 10; Ālūsī, I, 387; Jawād Ali, V, 66). A safha e a faiha eram pratos pequenos, para uma só pessoa (Khalīl ibn Ahmad, II, 971, III, 1427; Ālūsī, I, 387). Alguns dizem que esses pratos eram para duas ou três pessoas. O sukurruja era o menor de todos, e era utilizado para servir petiscos (Ālūsī, I, 387).

As Panelas

As palavras mirjal e burma podem ser encontradas nos textos – são nomes de panelas. Mirjal era uma panela de cobre. Utilizavam-se recipientes de cobre para guardar água, mas por causa do cheiro do cobre, não era recomendado fazer a ablução (o wudu') com essa água. É possível que não se conhecesse o processo de revestimento com outros metais, portanto é possível que houvesse casos de intoxicação por cobre. (Jawād Ali, V, 65; Akgün, p. 58).

A garra era um recipiente grande com alças, que necessitava de quatro pessoas para ser carregado. Carnes, como a de carneiro, eram preparadas nessa panela. A burma era uma panela funda feita de basalto, usada para cozinhar. Escavações arqueológicas na região de Yaman Faw revelaram muitas panelas de pedra de basalto, que eram usadas em muitas regiões da península Arábica. Qidr al-Musahhana era uma panela desse tipo, proveniente dessa região (Abū Dāwūd, At'ima, 17; Akgün, p. 58).

Louças com verniz verde, chamadas de hantam e jarr al-ahdar eram levadas à Medina do Iêmen e do Egito. Também haviam louças chamadas buram e saidan (Abū Dāwūd, Ashriba, 9; Akgün, p. 58).

Odres de Couro

Odres de couro, manufaturados costurando as partes dos pés e da cabeça do couro de animais eram usados para conservar líquidos como água, mel e gordura. Ukka, misāb e badī, que eram usados  para conservar manteiga, coalhada e coalhada seca, eram os tipos de odre de couro mais utilizados na conservação de alimentos. O ukka era pequeno e o utilizavam para conservar manteiga e mel. Os recipientes chamados de haifa e misāb eram usados para guardar mel. O haifa era estreito na parte de cima e largo na parte de baixo. (Tabarānī, XXV, 120; Ibn Manzūr, IX, 101, X, 468).

Esses odres eram feitos do couro curtido de diversos animais, usava-se até pele de lagarto. O Profeta Muhammad não gostava da carne de lagarto e também não gostava de alimentos que eram guardados dentro de peles de lagarto. Certa vez, ele perguntou de onde vinha a manteiga num pão que fora servido a ele e, quando o disseram que a manteiga estava guardada numa pele de lagarto, ele preferiu não comer aquele pão (Ibn Māja, At‘ima, 47).

Recipientes de Água

Apesar de os árabes terem denominado os recipientes de guardar água com nomes especiais, esses recipientes também eram usados na alimentação. Por exemplo, guardava-se o suco nabīz no mesmo recipiente em que se guardava água, e, ocasionalmente, suet também era guardado. Tibn ou tebn era um recipiente que comportava água suficiente para vinte pessoas. O sahn, outro recipiente, era menor que o tibn. O uss comportava água para três ou quatro pessoas. Os cálices eram profundos, e comportavam de duas vezes a duas vezes e meia mais água do que os cálices de hoje em dia. O q'ab continha água para uma pessoa, e gumar era a denominação do menor recipiente de todos em que se guardava água (Ālūsī, I, 394; Akgün, p. 60).

Na sociedade árabe, havia também recipientes feitos de ouro e de prata, e eles são mencionados no Alcorão, o de ouro na Surah Zuhruf (43:71) e o de prata na Surah Insān (76:15). O Profeta Muhammad recomendou não comer nem beber em recipientes de ouro ou de prata. Eles foram substituídos por cálices feitos de madeira e raramente de vidro, pois o vidro era um material caro demais para o uso diário. O Profeta Muhammad tinha um cálice de vidro (Muslim, Libās, 1, 4; Ibn Māja, Ashriba, 27; Nasāī, Zīnah, 87).

Os recipientes de madeira também eram chamados de jumjuma. Eles eram feitos de madeira de tamarix ou de nudar.  Amolecia-se a madeira de nudar enterrando-a, e depois era esculpida em forma de cálice. Os exemplares desidrataram com o tempo, e se quebraram. Um cálice desse tipo, utilizado pelo Profeta Muhammad, foi herdado por Anas e ele, por sua vez, o passou para uma de suas filhas. Anas servia água, leite, mel diluído e suco de tâmaras para o Profeta Muhammad nesse recipiente. Quando o cálice se rachou, Anas o remendou com prata. Alguns desses recipientes tinham alças de ferro para que fossem pendurados na parede, a fim de que insetos não entrassem neles. (Bukhārī, Ashriba, 29; Ibn Māja, At‘ima, 27; Ahmad ibn Hanbal, III, 247).

Alguns recipientes de madeira eram feitos com o tronco de tamareiras. Um recipiente chamado naqīr, que era esculpido do tronco da tamareira, era usado principalmente para guardar suco de tâmaras. Quando o suco passava alguns dias guardado, ele fermentava e se tornava alcoólico. A princípio, o Profeta Muhammad proibiu que se preparasse esse suco de tâmaras neste tipo de recipiente, mas, depois, ele permitiu que se preparasse, contanto que se prestasse atenção à quantidade de tempo em que era mantido guardado. (Muslim, Ashriba, 6; Ibn Māja, Ashriba, 14; Tirmidhī, Ashriba, 5, 6).

Durante as viagens, usavam-se odres de couro para carregar água, pois eram fáceis de guardar e carregar. Eles levavam o nome genérico de qirbah. Eles eram feitos do couro curtido de animais abatidos ou caçados, e em vários tamanhos, segundo o uso. Alguns deles eram feitos com a pele inteira do animal, com a região dos pés servindo como gargalo. Alguns deles eram feitos com frações menores da pele (Ibn Māja, Ashriba, 13; Ibn Kathīr, VI, 104; Shāmī, VII, 364).

Grandes odres de couro eram usados na região desde os tempos da ignorância pré-islâmica (jahiliyya). É mencionado nas narrações que Abd al-Muttalib e seus filhos serviam água numa bacia feita de couro para os peregrinos que iam visitar a Caaba. Eles chegavam a colocar uvas na água para aromatizá-la. O mais provável é que o couro desse recipiente largo fosse apoiado dos lados por uma estrutura e colocado em cima de um objeto que servia como base. Essa bacia era chamada de shakb. Em viagens, eram usados recipientes de água feitos com metade de uma pele de camelo (Ibn Sa‘d, I, 83, VIII, 319; Ibn Hajar, VIII, 248).

Alguns recipientes eram feitos de cerâmica, e alguns deles eram vermelhos. Eles ficavam com a cor do solo de onde vinha a matéria-prima da cerâmica. Há relatos de recipientes brancos e verdes nos hadiths. Eles eram betuminizados do lado de fora para que ficassem mais resistentes. Eram chamados de muzaffat ou muqayyar (Shāmī, VII, 362; Ibn Hajar, IV, 417).

Havia também recipientes feitos com cabaças ou calabaças, chamados de dubbā' e qar'. Eles tinham a forma de cântaros. Também eram usados para guardar o suco de tâmaras, e, como mencionado, às vezes esse suco gerava álcool. Portanto, o Profeta Muhammad proibiu que se mantivesse esse suco guardado nesses recipientes. (Muslim, Ashriba, 6; Tirmidhī, Ashriba, 5).

Outros nomes de recipientes de água encontrados nos textos são idāa, zekwa, ziqq, e ka’s (Khalīl ibn Ahmad, I, 72, II, 756, 757, III, 1547).

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