Introdução
Muitas pessoas tentam naturalizar a ideia de que muçulmanos e judeus são inimigos naturais, usando como argumento os conflitos entre israelenses e palestinos travados desde o século XX ou, até mesmo, tentam afirmar que o ódio é algo que está nas fontes sagradas islâmicas. No entanto, diversos capítulos na história mostram o quanto este argumento é repleto de erros.
Embora nem todos os episódios de convivência entre muçulmanos e judeus tenha sido bem sucedidos, períodos promissores da história judaica ocorreram em terras dominadas pelos muçulmanos.
A "era de ouro do judaísmo" ocorreu na Espanha islâmica medieval e revelou uma série de rabinos, filósofos e poetas que produziram uma série de textos importantes para a cultura hebraica.
Muitas vezes, os assuntos abordados nesses manuscritos falavam a respeito dos Profetas Jesus e do Profeta Muhammad. Os judeus tentavam se referir a essas figuras de forma discreta, para não chamar a atenção de pessoas que pudessem causar problemas.
Mas, de fato, este era um assunto tratado pela comunidade judaica e, ao contrário do que se possa pensar, as percepções nem sempre eram negativas, e muitas vezes esses dois Mensageiros de Allah eram vistos com admiração.
O que os rabinos diziam sobre o Islam?
É fato que havia muitas opiniões negativas sobre a teologia islâmica. O próprio Maimônides, um dos mais famosos estudiosos do Talmude, se referia ao Profeta Muhammad como "meshuggah", isto é, um tolo. No entanto, outros rabinos como o Shimon Bar Yochai, conhecido também por suas contribuições ao estudo da Cabala, escreveu um Midrash no qual exalta os muçulmanos.
Neste texto, ele relata ter passado quarenta dias meditando em uma caverna e, após este período, ele foi visitado por um Metatron, um anjo supremo de Deus. Shimon estava fugindo da perseguição romana e recebeu boas notícias do anjo: as conquistas muçulmanas viriam para lhe salvar.
"[Deus] está trazendo à tona o reino de Ismael (…) Ele levantará sobre eles um profeta de acordo com Sua vontade e Ele sujeitará a terra para eles; e eles virão e restaurarão isto com grandeza."
Este profeta viria para cumprir a profecia em Isaías 21:7 e ser o redentor dos judeus, o que está totalmente ligado com a Revelação do Islam.
O rabino andalus Ibn Paquda, por sua vez, introduziu de maneira sutil um famoso conceito islâmico na cultura judaica. Em um texto, ele fala sobre um "homem piedoso" (Hasid) que cumprimentava jovens que voltavam de uma batalha e dizia "Você voltou da pequena guerra com despojos, agora prepare-se para a grande guerra! (…) a guerra da inclinação do mal (yetzer hará) e seus servos."
Isto se assemelha aos hadiths que falam sobre a jihad do Islam, sendo que a menor guerra são as batalhas pela auto-defesa e proteção, enquanto a maior é a luta contra o mal que há dentro do próprio coração.
Teorias sobre o Alcorão e o Profeta Muhammad
Tanto os judeus como os cristãos propagaram a lenda do monge Bahira, que supostamente seria o verdadeiro autor do Alcorão. Esses dois povos apresentavam versões para esta história.
Os judeus diziam que o sujeito por trás do Livro Sagrado era um sábio cripto-judeu que praticava a fé hebraica de maneira oculta para evitar perseguições. Já os cristãos afirmavam que quem escreveu os versos da Revelação islâmica era, na verdade, um padre renegado.
Esta lenda afirma que o Profeta Muhammad teria encontrado o Alcorão durante a sua juventude, enquanto fazia expedições até a região do Levante e, depois disso, teria transmitido a mensagem dos versos sagrados.
Outras fontes, como a do estudioso judeu iemenita do século XII, Netanel ben al-Fayyumi, afirmam que a profecia de Muhammad é de fato verdadeira, mas que a mensagem que ele pretendia trazer era destinada aos gentios, ou seja, aos não-judeus.
Ainda segundo ele, a mensagem do Alcorão reafirma o status especial que o povo de Israel recebeu de Deus: "Muhammad era um profeta para eles, mas não para aqueles que os precederam no conhecimento de Deus".