Omar al-Mukhtar Muhammad ibn Farhat al-Manifi, o Leão do Deserto, foi o líder da resistência na Cirenaica, atual Líbia Oriental, contra a colonização italiana na Líbia. Omar era um professor e se tornou general, além disso, também era uma figura proeminente na tariqa Senussi, considerado um herói nacional da Líbia e símbolo de resistência em todo o mundo.
Omar nasceu em 1858, na cidade de Janzur, próximo de Tubruq, na Cirenaica Otomana. Ele perdeu seu pai ainda durante a infância e passou parte dela vivendo na pobreza. Eventualmente, foi adotado por um grande Sheikh e foi amigo de Sharif al-Gharyani, com quem teria desavenças no futuro, por acreditar que os invasores italianos eram invencíveis.
Ele foi educado na mesquita de onde vivia e eventualmente foi estudar, por oito anos, na Universidade Senussi em Jaghbub. Ele se tornou um especialista do Alcorão e Imam bastante popular. Entrou na ordem sufi Senussi, passou a ter maior conhecimento sobre a estrutura social da sociedade em que vivia e foi confiado em muitos casos para resolver disputas intertribais.
Vista aérea de Jaghbub, 1941 | Wikimedia
Em 1895, foi apontado como Sheikh de Zawiyat Ayn Kalk, quando os franceses avançaram no Chad, para colonizá-lo. Em 1899, foi enviado, junto a outros senussi, numa campanha para defender a região dos franceses. Em 1902, foi apontado como Sheikh de Zawiyat Laqsur, no norte da Cirenaica.
Em 1911, durante a Guerra Ítalo-Turca, a Marinha Italiana atracou na costa líbia. Seu almirante, Luigi Faravelli, ordenou que a administração e guarnição turcas se rendessem; do contrário, destruiriam Tripoli e Benghazi. Em vez de se renderem, os turcos e líbios recuaram para o interior. Assim, os italianos bombardearam as cidades durante três dias. Ao fim do bombardeio, o almirante declarou que os tripolitanos estavam comprometidos com a Itália. Esse evento marcou o início da série de confrontos entre as forças coloniais italianas e a oposição armada líbia na Cirenaica.
Mustafa Kemal (à esquerda – que viria a ser o presidente turco) e soldados líbios durante a Guerra Ítalo-Turca (1911-1912) | Wikimedia
Além de professor, Mukhtar também era conhecedor de táticas de guerra no deserto. Ele conhecia a geografia da região muito bem e usou esse conhecimento a seu favor nas batalhas que foram travadas contra os italianos. Mukhtar e seus subordinados atacaram, habilmente, postos avançados, emboscaram tropas, e cortaram linhas de suprimento e comunicação italianas. O Exército Italiano subestimou, por anos, os homens do deserto.
Omar e os Mujahidin da Ordem Senussi | Wikimedia
Em 1924, o governador italiano, Ernesto Bombelli, criou uma contra-guerrilha atuante na região de Jabal al-Akhdar, que foi responsável por atrapalhar o avanço da resistência líbia em 1925. Então, Omar mudou sua estratégia, sendo capaz, inclusive, de contar com a manutenção do apoio egípcio vindo da fronteira oriental.
Em 1929, após extensas negociações, estabeleceu-se um acordo, no qual os Senussi aceitariam sua completa rendição. No fim do mesmo ano, Mukhtar denunciou o acordo e reestabeleceu uma ação conjunta das forças líbias contra os italianos. Em 1930, uma ofensiva contra os líbios fracassou. Então, uma nova estratégia foi traçada: o plano consistiu em realocar a população de Jaghbub em campos de concentração na costa líbia e em fechar a fronteira do país com o Egito, encerrando o apoio egípcio aos Senussi.
Essas medidas foram tomadas em 1931 e afetaram a resistência imediatamente. Os "rebeldes" não conseguiam apoio em lugar algum, eram atingidos por aeronaves italianas e atacados pelos soldados italianos e seus colaboradores em terra. Apesar das dificuldades, Mukhtar resistiu. No entanto, foi capturado no mesmo ano, próximo de Suluntah.
Omar quando em custódia | Wikimedia
General Rodolfo Graziani, o último adversário a quem Mukhtar veio a enfrentar, deu uma descrição dele: “De estatura média, corpulento, cabelos brancos, barba e bigode. Omar foi dotado com uma rápida e vívida inteligência; tem muito conhecimento em temas de religião e revelou um caráter impetuoso e enérgico, é altruísta e intransigente. No fim, permaneceu bastante religioso e pobre, apesar de ser uma das mais importantes figuras dentre os Senussi”.
Omar al-Mukhtar, capturado, junto a oficiais italianos | Wikimedia
Após sua captura, foi sentenciado à morte pela Corte Italiana, que imaginava que após sua partida, a resistência cessaria. Mukhtar foi enforcado no campo de prisioneiros de Suluq, aos 73 anos. Uma frase supostamente proferida por ele é muito popular entre os muçulmanos atualmente: “Somos um povo que desconhece a rendição; ou vencemos, ou morremos”.
Busto em homenagem a Omar al-Mukhtar em Caracas, Venezuela | Wikimedia
Referências:
Rodolfo Graziani, "Cirenaica Pacificata"
Encyclopedia of World Biography on Omar al-Mukhtar, BookRags.com
Libya profile - Timeline, BBC News Africa