O seguinte é o resumo do relato da vista do explorador otomano do século XVII Evliya Çelebi (1611 – 1682) ao mausoléu do Profeta Muhammad em Medina no ano de 1671, tal como registrado em seu Seyâhatnâme:
Descrição do Interior do Jardim Purificado (Rawda al-Mutahhara) e de como entramos no túmulo do profeta com nosso patrono, o vizir Hussein Pasha
"Primeiro você deve colocar roupas limpas e ritualmente purificadas e constantemente recitar bênçãos e saudações sobre o Profeta. O Mestre do Santuário e doze de seus eunucos negros nos acompanharam, trajando peças de tecido de puro algodão. Estes aghas do santuário são homens santos ao nível do "Polo dos polos" (Kutbu al-Aktab). Eles dedicaram suas vidas em nome do Profeta - eunucos negros que deram 40 a 50 anos de suas vidas a esse serviço. Cada um deles carrega incensários de jóias e pulverizadores de água de rosas, com os quais se aproximam do portão do corrimão da sepultura do Profeta.
Primeiro, o Mestre do Santuário envolveu o paxá (Hussein) com uma peça de tecido branca e lhe deu um espanador. Em suma, haviam sete de nós, incluindo este humilde, que entraram no santuário. Conosco, estavam os vizires, deputados, ulemás e outros dignitários religiosos, notáveis da cidade e varredores... O Mestre tomou um espanador na mão e orando e louvando, abriu o nobre portão do mausoléu do Profeta na direção do túmulo de sua filha Fatimah. Os 12 eunucos e os vice-varredores mencionados acima entram e fecham o Portão da Felicidade, após o qual não é permitida a entrada de ninguém. Todos os varredores são pessoas de confiança. Eles também são permitidos no Jardim Purificado uma vez por ano pelos eunucos negros. Pelo resto do tempo, eles varrem a mesquita exterior.
Pedindo a intercessão de Fatimah (a filha do Profeta), eles recitam o primeiro capítulo do Alcorão por seu espírito e entram clamando: "Ó Filha do Mensageiro de Deus!" Pois ninguém alcança o túmulo do Profeta sem passar pelo túmulo de Fatimah. Eles queimam incenso de aloés, âmbar cinzento, cânfora, jacinto e outros tipos aloés. Clamando "Allah!", com olhos marejando de lágrimas, eles prosseguem até estarem no nível de sua nobre face e queimam incenso de âmbar cinza.
Todos os visitantes deste lugar fora do Jardim Purificado perfumam suas cabeças com o incenso e clamam: "Intercessão, ó Mensageiro de Deus!" O paxá e este humilde beijaram o chão e oraram pela intercessão do Profeta. Então começamos a varrer o nobre pavimento. Os eunucos negros ajudavam com suas sete lâmpadas. Os vice-varredores varreram uma ou duas vezes cada um e removeram o pó.
Nós e 15 dos que estavam conosco, foram deixados lá; mas eu não tinha mais forças para ficar, por puro amor (ao Profeta) eu estava embriagado e desnorteado. Pedi ajuda de seu nobre espírito e meus sentidos reviveram o suficiente para acender mais três lâmpadas.
Um grande manto é suspenso por baixo de uma imponente cúpula, (sob a qual está a sepultura sagrada, que não deve ser confundida com a "cúpula verde externa"). É um pavilhão de pano de ouro e cravejado de joias, valendo vários tesouros egípcios. Nenhum imperador possuiu algo parecido. Ninguém pode ir além deste manto, pois o próprio Amado de Deus está aqui em um túmulo coberto com um manto da Caaba bordado de verde. Este pavilhão do mensageiro de Deus contém numerosos itens preciosos e enfeitados com joias - candelabros, candeeiros a óleo, incensários, pulverizadores de água de rosas e afins - enviados como oferendas votivas por sultões, vizires, deputados e grandes notáveis. Estes se acumularam desde a morte do Profeta até esta data de 1082 (1671-1672) e estão amontoados dentro do pavilhão. Só Deus sabe quantos itens existem. É por essa razão que ninguém é permitido dentro do manto; que é reservado para o Profeta. Mas uma vez por ano alguns dos servos mais piedosos têm permissão para entrar e limpar a poeira.
O califa Abu Bakr também está enterrado neste local abaixo do manto, em outro túmulo coberto com manto da Caaba, supostamente à direita das coxas do Profeta. Já o túmulo do califa Omar fica à direita do pé do Profeta, em um túmulo coberto do mesmo manto. O pavimento é decorado com pedras preciosas - ágata, cornalinas do Iêmen, turquesa, crisólita, cristal de rocha Necef, vidro de Murano, olho de peixe, olho de gato, olho de cobra, granadas do Ceilão, pedras Sebil al-alla, de pérola, diamantes do Chipre e diamantes da Alemanha - que deslumbram o observador. Por esta razão, não é coberto com tapetes.
O túmulo também é adornado com muitos candelabros valiosos, cada um, a lembrança de um sultão. Só Deus sabe quanto vale cada um.
Há milhares de lâmpadas incrustadas de joias, bolas de ouro, selos de Salomão (estrelas de Davi) e lâmpadas de joias em forma de decantador que impressionam o espectador. Como não há espaço para todos os lustres sob esta alta cúpula, alguns deles estão pendurados por correntes de joias em setenta ou oitenta lugares nos vários cantos da cúpula de nove arcos e eles foram adornados com ainda mais presentes que foram trazidos mais tarde.
Há também candelabros de ouro a altura de um homem, cada um valendo tanto quanto os impostos otomanos recolhidos na Anatólia. Todas as noites os servos vêm e acendem as velas de cânfora de 7 ou 8 côvados que iluminam os itens nas redondezas - candelabros, incensários, pulverizadores de água de rosas - tudo muito forjado e adornado com joias, deslumbrante de se ver. Em sete lugares há sete desses candelabros, a altura de um homem e altamente trabalhados. O último é particularmente ornamentado; mas cada um vale dez tesouros egípcios.
Costurados para o pavilhão no túmulo do Profeta estão dois diamantes, um de 70 quilates e outro tão grande quanto a mão de um bebê. Por Deus, examinei estes diamantes com grande cuidado à noite, quando a cúpula é maravilhosamente iluminada. Eles são evidentemente diamantes, embora dignos de serem chamados de "tochas noturnas". Alguns alunos usam o brilho desses diamantes para ler suas lições. A cortina na qual esses diamantes são costurados está pendurada por cordões de seda tão grossos quanto um braço, bem no centro da cúpula"
Infelizmente, o esplendor dos tesouros do túmulo do Profeta seriam saqueados e suas relíquias destruídas posteriormente no século XVIII pelos militantes do movimento wahhabi.