A Peregrinação à Meca nos tempos pré-islâmicos era um ritual cultural e um empreendimento comercial. O que ele é hoje?
As pessoas tratavam seus deuses como relíquias familiares e amuletos da sorte. Esses deuses não tinham uma presença real e substancial em suas vidas. A Caaba era o epicentro da Jahiliyya (ignorância) – ela abrigava os ídolos, era cercada por seguidores desnudos e era onde negócios mesquinhos eram conduzidos.
Satanás não tem poder de criar; apenas poder de corromper. Em vez de criar seu próprio templo, ele subverteu o templo mais sagrado, invertendo seu verdadeiro propósito. O satanismo é sobre reverter o bem e o mal, e reordenar tudo ao contrário.
O epicentro do ser humano é o coração. Se o coração está preenchido com os ídolos deste mundo, então ele também necessita ser purificado e retornado para a sua função apropriada – o monoteísmo.
Um verdadeiro entendimento da Peregrinação requer um verdadeiro entendimento do monoteísmo e do Islam. O Hajj retrata o desespero de Hagar e como sua confiança em Deus lhe resgatou. Tal qual o Zamzam surgiu num lugar árido, seco e hostil, o Profeta Muhammad e a Revelação surgiram numa terra de vazio e ignorância para libertar o povo da "beira do abismo infernal" [3:103]. Tal qual Abraão procurou sacrificar seu único filho pela glória de Deus, temos de fazer sacrifícios por Deus: viajar para esta terra quente e distante (quase sempre, no passado, com pés descalços), raspando nossa cabeça, despendendo de nossas riquezas, vestindo mortalhas, sacrificando nossos recursos e nossos animais. O ego é sacrificado na Peregrinação e você nasce novamente. Um sacrifício de vida é o que é necessário para entrar numa aliança com Allah – por isso é chamada "qurban" (aproximação).
Mas quantos de nós tratamos o Islam como uma herança familiar? Quantos de nós usamos Deus apenas quando nos é conveniente? Quantos de nós faremos o bem apenas quando tiver benefício material por trás? Quantos de nós somos o povo do ritual, mas sem substância? Ou da "substância", mas sem ritual?
Se o Hajj é sobre sacrifício, quantos de nós estamos dispostos a sacrificar alguns dias num hotel cinco estrelas, mas não sacrificar nada da substância pela glória de Deus?
Quando chegou a hora de Hussein ibn Ali, o mestre dos jovens do Paraíso, partir para Kufa, ele mudou sua intenção de Hajj para uma intenção de Umra. Ele chamou o povo de Meca e Medina a se juntarem a ele, mas não o fizeram. Por que ele partiria durante o tempo do Hajj? Porque ele precisava ir e realizar o princípio do Hajj, enquanto as pessoas estavam mais apegadas ao seu ritual. E foi o que ele fez, até ele mesmo ser massacrado.
Zombar deste importante pilar é um pecado. Hoje, Deus barrou as pessoas de visitarem Sua Casa. Uma vez que reganhemos nossa sinceridade, talvez Ele nos permita entrar novamente nela. Mas, sem sinceridade, Aquele que pode trancar o coração do homem, também pode trancar o coração da Terra. Uma vez que fizermos a Migração para fora da Ignorância completamente, nosso retorno à Meca – nossa gloriosa "reconquista" – poderá ocorrer mais uma vez.