Certa vez, um jovem estudante havia acabado de se formar como imã na famosa Universidade de al-Azhar no Cairo.
De turbante e jubba, foi designado para cuidar de uma vila pobre, bem ao sul do rio Nilo.
Erudito como quem, sabia todo Alcorão de cor, e havia memorizado uma infinidade de ditos do Profeta.
Era mestre nas ciencas da jurisprudência, e em suma, tinha muito na cabeça.
Ao chegar na vila, numa sexta-feira, se dirigiu a mesquita local para a pregação.
Subiu no púlpito, e começou a gastar todo seu árabe sobre aquela plateia de agricultores humildes.
Quanto mais se alongava em seu discurso apaixonando, via que um homem ali se debulhava em lágrimas, enquanto os demais pareciam não entender nada do que estava sendo dito.
Ao terminar seu longo e fervoroso sermão, se dirigiu ao homem choroso e disse-lhe "Só o senhor parece ter sido capaz de me entender diante desta plateia."
Ao que o homem respondeu "Me desculpe, Sheikh, mas assim como os outros, não entendi nada do que o senhor disse."
— Então, por que chorava?
— É que hoje de manhã perdi um bode que me era muito querido, e o balançar de sua barbicha, quando falava, me lembrava a dele.