Desde muito jovem, instintivamente tive sede da verdade. Isso fazia parte do meu temperamento, dado por Deus, e não era uma questão de escolha ou esforço. Portanto, quando cheguei à idade adulta, recusei-me a aceitar ideias baseadas na autoridade de outros e as crenças que me ensinaram quando criança perderam o controle sobre mim. Observei que a descendência de cristãos cresceu para ser cristã, a descendência de judeus cresceu para ser judia e a descendência de muçulmanos cresceu para ser muçulmana. Fui levado a buscar as verdades internas que estão por trás de todas as religiões.
Era evidente para mim que o conhecimento só pode ser certo se seu objeto for revelado de forma a dissipar todas as dúvidas. Assim, considerei os vários tipos de conhecimento que já possuía e percebi que nada era certo, exceto as percepções dos sentidos. Então, me perguntei se até mesmo as percepções dos sentidos estão abertas a dúvidas e, depois de uma reflexão profunda, concluí que sim. Por exemplo, a sombra projetada pelo gnômon de um relógio de sol pode parecer estacionária ao sentido da visão, no entanto, ao observá-lo hora a hora, descobrimos que está se movendo.
Eu agora estava cético em relação a todo o conhecimento e esse ceticismo total era uma doença espiritual.
(Imam Al-Ghazali)