Introdução
Os musaharatis são homens que passam pelas ruas tocando tambores durante as madrugadas do Ramadan, convocando todos os muçulmanos para fazerem a refeição da madrugada, chamada suhur. A tradição, que começou na época do Profeta Muhammad, continuou forte durante o Sultanato Mameluco e o Império Otomano, e é celebrada até os dias atuais.
Embora alguns fatores estejam contribuindo para o enfraquecimento desta celebração, em alguns países árabes a prática de batucar no fim da noite para que as pessoas possam fazer a última refeição antes do início do jejum ainda se mantém viva.
Na Palestina, por exemplo, os musaharatis sofrem bastante com a ocupação israelense, sobretudo por causa do conflito entre os dois povos. Além disso, as novas tecnologias estão trazendo novos hábitos, somando outros desafios para os batuqueiros.
O cotidiano dos batuqueiros
Foto: Al-Monitor
"Ó, você que está dormindo, acorde e diga que Deus é único! A vida não dura para sempre, então jejue no Ramadan!" Esses são os cantos alegres que preencheram as ruas e vielas da Palestina durante séculos. No entanto, nas últimas décadas, a tristeza tem tomado conta da celebração do mês sagrado dos muçulmanos deste país.
Há anos, os intermináveis conflitos com Israel causam aumentos na taxa de desemprego na Palestina. Atualmente, este índice está em 29,9%, um dos mais altos do mundo. Diante desta triste realidade, muitos musaharatis encaram este trabalho anual como forma de ganhar algum dinheiro, fruto das doações voluntárias que os muçulmanos lhes oferecem.
Os musaharatis passam por todos os bairros, recebendo atenção respeitosa dos cristãos e acolhimento da maior parte dos muçulmanos, que os aclamam e oferecem-lhes suprimentos e até propostas para tocar em outras cerimônias. Já em frente aos prédios judaicos, os batuques param completamente, pois eles temem a repressão policial.
Há cerca de 50 famílias judias vivendo em Jerusalém Oriental. Elas têm apoio de grupos israelenses de extrema-direita, como o Ateret Cohanim, que compram propriedades no lado islâmico do território e colocam judeus para viverem ali, como uma espécie de colonização. Pela primeira vez nos últimos anos, musaharatis foram presos enquanto tocavam perto desses territórios.
A luta para manter a cultura
Musaharatis se espalham pela cidade para manter tradição milenar (Foto: Ari Plachta/PRI)
Devido aos constantes problemas com a polícia, muitos tambozeiros têm desistido de participar da tradicional cerimônia de despertar os muçulmanos para a refeição que antecede o jejum. Mas este não é o único problema que enfrentam, pois, os aplicativos digitais e os recursos tecnológicos também contribuíram para a desvalorização do trabalho dos musaharatis.
Todos os problemas sociais dos palestinos, somados às demais dificuldades vividas pelos batuqueiros, estão contribuindo para o enfraquecimento desta cultura. Por isso, muitos dos grupos de musaharatis que alegravam as madrugadas de Ramadan da Palestina já não existem mais.
Além disso, os grupos remanescentes também enfrentam problemas com pessoas que os xingam, cachorros bravos que avançam contra eles e ladrões que atrapalham seu trabalho. Apesar de todos os obstáculos, a resposta dos musaharatis é sempre carregada de simpatia e, sempre que são hostilizados, eles dizem "Feliz Ramadan!".
Ainda que as doações possam lhes render algum dinheiro, alguns grupos de tambozeiros usam esses recursos para fazer uma refeição comunitária. As dificuldades e os costumes dessas pessoas mostram que esta é uma tradição sustentada pelo amor e pela fé, e não possui objetivos comerciais.