Nizam

O Islam no Vietnã é primariamente a religião do povo cham, uma minoria étnica relacionada aos malaios; no entanto, cerca de um terço dos muçulmanos no Vietnã são de outros grupos étnicos. Há também uma comunidade que se descreve de origens étnicas mistas que praticam o Islam e também são conhecidas como cham, na região de Châu Đốc no sudoeste do país.

Histórias falam que Osman ibn Affan, o terceiro califa do Islam, enviou o primeiro emissário muçulmano oficial ao Vietnã no mesmo período que também enviou a China sob a dinastia Tang em 650. Comerciantes muçulmanos são conhecidos por terem feito paradas em portos no Reino de Champa na rota para a China muito cedo na história do Islam; no entanto, as primeiras evidências materiais da transmissão do islamismo consistem em documentos da era da dinastia Song da China que registram que o povo cham familiarizou-se com o Islam no final do século X e início do século XI. O número de seguidores começou a aumentar à medida que os contatos com o Sultanato de Malaca se ampliaram após o colapso de 1471 do Reino de Champa, mas o Islam não se difundiu largamente entre os cham até meados do século XVII. Em meados do século XIX, muitos muçulmanos cham emigraram do Camboja e se estabeleceram na região do Delta do Mekong, reforçando ainda mais a presença do Islam no Vietnã. O Islam malaio começou a ter uma influência crescente sobre os cham no início do século XX; publicações religiosas foram importadas da Malásia, eruditos malaios faziam sermões em mesquitas na língua malaia, e alguns indivíduos iam às madraças malaias para aprofundar seus estudos do Islam. O delta do Mekong também viu a chegada de muçulmanos malaios.


Mesquita em Saigon | Flickr

Em 1832, o imperador vietnamita Minh Mang anexou o último reino de Champa, e com ele sua população muçulmana. Isso resultou no líder muçulmano cham Katip Suma, que foi educado em Kelantan na Malásia, a declarar uma jihad contra os vietnamitas. Os vietnamitas alimentavam coercivamente os muçulmanos com carne de porco e hindus com carne de vaca contra sua vontade a fim puni-los e assimilá-los à cultura vietnamita. Ambos os grupos eram da etnia cham.

Muçulmanos e hindus, então, formaram a Frente de Libertação de Champa (FLC) liderada pelo tenente-coronel muçulmano Les Kosem para lutar contra o Vietnã do Norte e do Sul durante a Guerra do Vietnã a fim de obter a independência de Cham. A Frente de Libertação de Cham juntou-se aos Montagnards e Khmer Krom para formar a Frente Unida para a Libertação das Raças Oprimidas (Front Uni de Luttes das Raças Opprimées, FULRO) para combater os vietnamitas.


Bandeira da Frente de Libertação de Champa | Wikimedia
 

Após o estabelecimento da República Socialista do Vietnã em 1976, alguns dos 55.000 muçulmanos da etnia cham emigraram para a Malásia. 1.750 também foram aceitos como imigrantes pelo Iêmen; a maioria se estabeleceu em Ta'izz. Aqueles que permaneceram não sofreram perseguição violenta, embora alguns escritores afirmem que suas mesquitas foram fechadas pelo governo. Em 1981, os visitantes estrangeiros do Vietnã ainda podiam falar com muçulmanos indígenas e rezar ao lado deles, e um relato de 1985 descreveu a comunidade muçulmana de Ho Chi Minh como sendo especialmente etnicamente diversa: além do povo cham, também haviam indonésios, malaios, paquistaneses, Iemenitas, omanis e norte-africanos; seu número total era de aproximadamente 10.000 na época. No entanto, os muçulmanos do Vietnã permaneceram relativamente isolados do islamismo mainstream mundial, e seu isolamento, combinado com a falta de escolas religiosas, fez com que a prática do Islam no Vietnã se tornasse cada vez mais sincrética. O uso do árabe não era difundido mesmo entre os líderes religiosos, e alguns muçulmanos eram observados rezando a Ali e se referindo a ele como o "Filho de Deus". Tais anomalias passaram a mudar lentamente devido à maior exposição da comunidade ao mundo muçulmano como um todo.

A maior mesquita do Vietnã foi inaugurada em janeiro de 2006 em Xu'an Lộc, na província de Đồng Nai; sua construção foi parcialmente financiada por doações da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos, este último tendo um forte vínculo com o Vietnã.

 

Maior Mesquita do Vietnam | mapio.net
 
De acordo com o grupo Cham Advocacy International Office of Champa (COI-Champa) e a ativista muçulmana cham Khaleelah Porome, tanto hindus como muçulmanos chams sofreram perseguição religiosa, étnica e restrições à sua fé sob o atual governo vietnamita, com o estado vietnamita confiscando propriedades e proibindo os cham de observarem suas crenças religiosas. Templos hindus foram transformados em locais turísticos contra a vontade da comunidade cham hindu. Em 2010 e 2013, vários incidentes ocorreram nas aldeias Thành Tín e Phươc Nhơn, onde chams foi assassinado por vietnamitas. Em 2012, a polícia vietnamita na vila de Chau Giang invadiu uma mesquita cham e roubou o gerador elétrico. Muçulmanos cham no Delta do Mekong também foram economicamente marginalizados, com os vietnamitas étnicos se estabelecendo em terras que antes eram propriedade de chams com apoio do Estado.

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