Nizam

O imã Shamil, (1797 – 1871) foi um líder político e religioso dos avaros muçulmanos do Cáucaso do Norte. Esteve à frente da resistência contra o Império Russo na Guerra do Cáucaso, e foi o terceiro imã do Daguestão e da Chechênia entre 1834 e 1859.

Shamil nasceu em 1797, na pequena vila de Gimry, no atual Daguestão, Rússia. Seu pai, Dengau, era um proprietário de terras livre, e esta posição permitiu a Shamil e seu amigo próximo, Ghazi Mullah, estudarem diversos tópicos incluindo o árabe e a lógica. Shamil também se juntou à ordem sufi Naqshbandi Mujaddidy Khalidiya, e se estabeleceu como um respeitável erudito religioso entre os muçulmanos do Cáucaso.

Shamil viveu numa época em que o Império Russo estava se expandindo para dentro de territórios tradicionalmente dominados pelo Império Otomano e pela Pérsia. Logo após a invasão russa, diversas nações caucasianas se uniram para resistir ao domínio czarista, naquilo que veio a ser conhecido como a Guerra Caucasiana. Alguns dos primeiros líderes desta resistência caucasiana foram o sheikh sufi Mansur (1732–1794) e Ghazi Mollah. Shamil, amigo de infância de Ghazi Mollah (1795–1832), veio a tornar-se seu discípulo e conselheiro.

Em 1832, Ghazi Mollah morreu na Batalha de Gimri, e Shamil foi um de apenas dois dervixes a escapar, sofrendo ferimentos graves. Durante a batalha ele havia sido esfaqueado pela baioneta de um soldado russo. Após pular de uma elevação: "ele passou pelas cabeças da linha de soldados que estava prestes a abrir fogo contra ele. Caindo por trás deles, ele girou sua espada com a mão esquerda e feriu 3 soldados, mas foi baionetado por um quarto, e o aço penetrou fundo em seu peito. Ele agarrou a baioneta, a retirou de sua carne, e matou o homem com um golpe de espada, e com outro salto sobre-humano, ele desapareceu na escuridão." Após seu desaparecimento, ambos os russos e demais dervixes da resistência pensaram que ele estava morto.

Uma vez recuperado, ele emergiu do esconderijo e voltou aos sufis guerreiros, liderados pelo segundo imã, Gamzat-bek. Ele travaria uma guerra incessante contra os russos durante o próximo século e se tornaria dos lendários comandantes da guerrilha. Quando Gamzat-bek foi assassinado por Hadji Murad em 1834, Shamil tomou seu lugar como o principal líder da resistência caucasiana e o terceiro imã do Imamato Caucasiano. Em 1839, Shamil e seus seguidores, com cerca de 4000 homens, mulheres e crianças, encontraram-se sitiados em sua fortaleza montanhosa de Akhoulgo, aninhados na curva do Andi Koysu, a cerca de dez milhas a leste de Gimry. Este cerco épico durou oitenta dias, resultando finalmente em uma vitória russa. Os russos sofreram cerca de 3000 baixas tomando a fortaleza, enquanto os rebeldes foram abatidos em combates extremamente amargos e difíceis para as tropas russas.

Shamil e um pequeno grupo de seus seguidores mais próximos, incluindo sua família, conseguiram escapar miraculosamente pelos penhascos e atravessar as linhas russas durante os últimos dias do cerco; após sua fuga, tratou de reagrupar a resistência. Shamil tinha uma capacidade incomum para unir as diversas tribos caucasianas, que frequentemente entravam em combates armados umas contra as outras, em torno da luta contra os russos pela força de seu carisma, piedade e justiça na aplicação da lei islâmica. Costumava fazer uso bem-sucedido de táticas de guerrilha, e liderou o movimento de resistência até 1859, quando foi preso, com sua família, pelas tropas russas em Gunib.

Captura de Imam ShamilCaptura de Imam Shamil em 1859 | Franz Roubaud 

Após a sua captura, Shamil foi levado para São Petersburgo, onde foi apresentado ao czar Alexandre II da Rússia. Posteriormente, foi exilado em Kaluga, uma pequena cidade próxima a Moscou. Depois de diversos anos ali, reclamou às autoridades sobre o clima, e, em dezembro de 1868, recebeu a permissão de se mudar para Kiev, então um importante centro comercial no sudoeste do império. Em Kiev comprou uma mansão na Rua Aleksandrovskaya. As autoridades imperiais ordenaram ao superintendente de Kiev que mantivesse Shamil foi "vigilância severa, porém não demasiado incômoda", e designou à cidade uma soma significante de dinheiro para as necessidades do exilado.

Em 1859, Shamil escreveu a um de seus filhos: "Pela vontade do Todo-Poderoso, o Governante Absoluto, caí nas mãos dos incrédulos... o Grande Imperador... me estabeleceu aqui... em uma grande e espaçosa casa coberta de tapetes onde todas as minhas necessidades são atendidas".

Em 1869, ele recebeu permissão para realizar a peregrinação a cidade sagrada de Meca. Ele viajou primeiro de Kiev para Odessa e depois navegou para Istambul, onde foi saudado pelo sultão otomano Abdul Aziz. Ele se tornou um convidado de honra Palácio de Topkapi por um curto período e deixou Istambul em um navio reservado para ele pelo sultão. Em Meca, durante a peregrinação, ele se encontrou e conversou com Abdul Qadir al-Djezairi, outro famoso líder sufi, que resistiu por anos com seus homens a colonização francesa da Argélia. Depois de completar sua peregrinação a Meca, ele morreu em Medina em 1871 enquanto visitava a cidade e foi enterrado em Jannatul Baqi, um cemitério histórico em Medina, onde muitas personalidades proeminentes da história islâmica foram enterradas.

Imam Shamil
Imam Shamil, retrato por Andrey Denyer, 1859.

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