Abu Ishaq Ibrahim era filho de um rei da região de Balkh, no Afeganistão. Devido à sua condição enquanto membro da realeza, tinha acesso a mordomias e facilidades. Uma das diversões de Abu Ishaq era a de caçar próximo de onde vivia.
Certa vez, numa dessas caçadas, ao encontrar seu alvo, partiu em disparada para caçá-lo. No meio da corrida, ouviu uma voz lhe chamar, que dizia: "Ó Ibrahim, você foi comandado ou criado para fazer isso?". Novamente, ouviu a voz lhe chamar por detrás do arco de sela, dizendo: "Por Deus! Você não foi criado para isso e você não foi ordenado a fazer isso!".
Ao voltar do território de caça, deixou seu cavalo e encontrou-se com um dos pastores de seu pai. Abu Ishaq pegou a camisa de lã do pastor, vestiu-a e entregou todos os seus pertences, incluindo seu cavalo, para o homem. A partir daí, empreendeu uma viagem, saindo do Balkh e indo até Meca, onde se tornou protegido de Sufyan al-Thawri e al-Fudayl ibn Iyad. Depois de sua estadia em Meca, resolveu viajar até a Síria, onde passou os últimos dias de sua vida.
Existem diversas histórias sobre Abu Ishaq, contadas e passadas por diversas gerações. Uma das histórias conta que, atravessando o deserto, Ibrahim conheceu um homem, que lhe ensinou o nome mais elevado de Deus. Depois de um tempo, quando o homem partiu e Ibrahim ficou sozinho, resolveu chamar Deus pelo nome que aprendera. De repente, Abu Ishaq deparou-se com Khidr, que se aproximou dele e falou: "Meu irmão, Dawud (o Profeta), acabou de ensinar-lhe o nome mais elevado de Deus".
Abu Ishaq era conhecido por sua escrupulosidade piedosa. É narrado que uma vez ele disse: "Observe atentamente o que você come e então não haverá perigo para você por não ficar acordado durante a noite ou jejuar durante o dia".
A súplica mais comum proferida por Abu Ishaq era: "Ó Deus, retire-me da desgraça da desobediência a Ti e coloque-me na glória da obediência a Ti."
Uma vez, uma pessoa se dirigiu a Ibrahim, reclamando do preço da carne.
— A carne ficou cara! — disse o homem.
— Faça-a barata — respondeu Abu Ishaq, querendo dizer que o homem deveria não a comprar. Em seguida, recitou o seguinte verso: "Quando algo se torna caro demais para mim, abandono-a. Assim, quanto mais caro fica, mais barato é para mim."
Quando vivia em Meca, Abu Ishaq deu alguns conselhos para um homem que andava ao redor da Caaba, para que este fosse capaz de melhorar enquanto temente a Deus:
"Saiba que você não alcançará a estação dos justos até que tenha subido o pico de seis montanhas. Primeiro, você deve fechar a porta dos prazeres e abrir a porta da dificuldade. Segundo, você deve fechar a porta da auto-glorificação e abrir a porta da humildade. Terceiro, você deve fechar a porta da quietude e abrir a porta do auto-esforço. Quarto, você deve fechar a porta do sono e abrir a porta da vigília. Quinto, você deve fechar a porta da riqueza e abrir a porta da pobreza. Sexto, você deve fechar a porta da esperança e abrir a porta da prontidão para a morte."
Ibrahim trabalhou durante um tempo como guarda de uma vinha para um homem da cidade. Um soldado estava passando pela vinha e abordou ele:
— Me dê essas uvas! — ordenou o soldado.
— Não posso, o dono delas, meu chefe, proibiu-me de fazer isso. — respondeu Ibrahim.
Ao ouvir a resposta, o soldado ficou furioso com a insubordinação de Abu Ishaq para com ele, e começou a chicoteá-lo. Enquanto era chicoteado, Ibrahim abaixou a cabeça:
— Bata nessa cabeça, pois ela desobedece a Deus o tempo todo! — disse Ibrahim.
Após ouvir o que Ibrahim proferiu, o soldado se sentiu constrangido e não conseguia mais bater nele, deixando-o e indo embora.
Sahl ibn Ibrahim nos legou uma história sobre Abu Ishaq. Sahl estava adoentado e contou que Abu gastou todo seu salário no tratamento dele. Quando estava passando fome, Ibrahim vendeu seu próprio burro e gastou todo o dinheiro que conseguiu com a venda dele para comprar alimentos para o amigo.
— Ibrahim, onde está seu burro? — indagou Sahl.
— Eu o vendi! — respondeu Ibrahim.
— E no que montarei?
— No meu pescoço, meu irmão!
E assim o fez: durante três paragens, Ibrahim carregou Sahl até que ele fosse capaz de andar sozinho.
Referência: Risala Qushayriyah.