Nizam
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Abdul Qadir Jilani nasceu na província persa de Jilan no mês de Ramadan do ano 470 após a Hégira (1077-78 d.C.). O Sheikh foi abençoado pela linhagem paterna e materna. Do lado paterno, era descendente direto do Imam Hassan. Do lado materno, era descendente direto do Imam Hussein.

Sua infância não foi como a de uma criança qualquer. Desde tenra idade dedicava seu tempo à recordação de Deus. Quando intencionava se juntar às outras crianças, ouvia uma Voz lhe dizer: “Ó abençoado, venha até Mim”. A princípio, o jovem Abdul Qadir tinha medo da voz e ia se recolher com sua mãe. Depois de um tempo, se acostumou a ela e sempre que pensava em brincar, ia se recordar de Deus.

A educação religiosa fez parte da vida de Abdul Qadir desde cedo. Sua mãe o matriculou numa madrassa da região de Jilan. É dito que sempre que ele chegava na madrassa, via figuras brilhantes dizendo: "Abram alas ao Amigo de Allah!".

Certa vez, quando andava nas ruas de Jilan, Abdul Qadir se deparou com um boi e se manteve andando atrás dele. De repente, o boi se virou e começou a falar como um humano: “Você não foi criado e nem ordenado a fazer isso”. Imediatamente, Abdul Qadir voltou para casa e contou o que ocorreu para sua mãe. Então, pediu-lhe permissão para continuar seus estudos e obter conhecimento espiritual em Bagdá. Ela, que já tinha 78 anos, concordou sem pensar duas vezes.

Abdul Qadir chegou numa Bagdá governada pelo Califado Abássida, tomada por corrupção e negligência aos ensinamentos islâmicos. Sem dinheiro, o jovem passou muitos dias na fome e na pobreza. Em busca de comida halal, ele foi para uma região um pouco afastada de Bagdá. Ao chegar lá, viu que haviam outros 70 santos esperando obter a mesma coisa. Então, não querendo ficar no caminho deles, decidiu voltar para Bagdá.

No caminho de volta, conheceu um viajante de Jilan. Ao descobrir que era de lá, o viajante perguntou se ele conhecia algum Abdul Qadir. Sabendo que falava com o próprio, entregou-lhe uma barra de ouro, dizendo que se tratava de algo enviado pela mãe dele. Imediatamente, Abdul Qadir agradeceu a Deus e voltou para a região em que estava, onde dividiu seu ouro com os santos que estavam presentes. Então, ao voltar para Bagdá, usou seu ouro para preparar comida para os mais pobres da cidade.

Abdul Qadir eventualmente pôde estudar na Madrassa Nizamiya, uma das mais prestigiadas do mundo àquela altura. Sob tutela dos melhores professores do mundo islâmico, alcançou um nível excepcional em jurisprudência, exegese do Alcorão, Sunnah do Profeta, hadith e literatura árabe.

Após completar seus estudos acadêmicos, Abdul Qadir não parou de buscar conhecimento espiritual profundamente. Ele recebeu, desde então, a oportunidade de adquirir esse conhecimento sob a orientação do Sheikh Hammad ibn Muslim ad-Dabbas e também do Sheikh Abu Said al-Mukharrami.

No ano 496 depois da Hégira (1102-4 d.C.), após completar seus estudos acadêmicos e espirituais, passou muitos anos da sua vida se dedicando à reclusão e profunda reclusão, se abstendo às questões mundanas. Durante esse período de 25 anos, viajou por desertos e ruínas ao redor de Bagdá, experienciando dificuldades físicas extremas. Ele passou este tempo de sua vida em constante lembrança de Allah.

Abdul Qadir se envolveu em exercícios espirituais muito intensos. Sua sinceridade e dedicação no controle do nafs (ego) o levaram a altas estações espirituais, afogando-o no mar do amor a Allah e a Seu Mensageiro. Dessa forma, também, reuniu muitos discípulos.

Abdul Qadir disse: "Por 25 anos, vaguei pelas selvas do Iraque. Por 40 anos, fiz a oração do fajr com a ablução do isha e por 15 anos costumei ficar sobre um pé até o fajr e completar a recitação de todo o Alcorão. Durante esse tempo, passava entre três a quarenta dias sem comer, nem mesmo um pedaço".

Dos dois sheikhs que o orientaram, jurou lealdade a Sheikh Abu Said al-Mukharrami. Uma vez, quando Abdul Qadir e os outros discípulos estavam diante de Abu Said, este pediu que Abdul Qadir fosse pegar algo. Enquanto estava fora, Abu Said disse sobre ele: "Um dia, o pé deste jovem estará sobre os ombros de todos os santos e todos eles se humilharão perante ele".

Quando voltou para Bagdá, Sheikh Abdul Qadir enfrentou uma tribulação a qual superou com sabedoria e majestade. As elites islâmicas ficaram perturbadas com o retorno do Sheikh que, devido à sua grande reputação e status espiritual, acumulou muitos seguidores. Os eruditos se reuniram e criaram um meio pelo qual poderiam indicar claramente seu descontentamento em relação à presença dele em Bagdá.

Eles ordenaram que uma grande embarcação fosse enchida com água até sua borda e a enviaram para o alojamento do Sheikh. A embarcação representava Bagdá e a água, os eruditos lá presentes, indicado que já não haviam espaço para outros sheikhs na cidade.

De forma engenhosa e sábia, demonstrou seus poderes ao colocar uma rosa em cima da água, retornando a embarcação aos remetentes. Ao verem a rosa, passaram a reconhecer a sabedoria espiritual do Sheikh Abdul Qadir e lhe deram o título de Rosa de Bagdá.

Abdul Qadir dava diversas aulas de tafsir, hadith, fiqh e sermões durante a semana em Bagdá. Ele também emitia fatwas acerca de temas trazidos a ele por pessoas de todo o mundo. Toda noite, após as orações do maghrib, distribuía comida entre os pobres. Milhares de muçulmanos se arrependeram de seus pecados através de seus discursos e centenas se converteram ao Islam através dele.

Antes de falecer, Sheikh Abdul Qadir disse: "Busque apoio nestas palavras: 'Não há nada digno de adoração senão Allah, Glorificado e Exaltado é Ele, o Sempre-Vivente, Que não tem medo de morrer. Glória para Ele Que exulta em Sua onipotência e subjuga Seus servos com a morte. Não há nada digno de adoração senão Allah. Muhammad é o Mensageiro de Allah'".

Abdul Qadir morreu em 561 AH (1166 d.C.), aos 91 anos. É dito que tantas pessoas se encontraram em seu funeral que só conseguiram enterrar ele durante a noite. A data de sua morte, 11 de Rabi al-Thani é lembrado até os dias de hoje por seus admiradores e seguidores de seu caminho.


Mausoléu de Abdul Qadir Jinali em Bagdá, Iraque | Nick Metcalfe

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