Nizam
Fonte: The New Encyclopedia of Islam

História

A origem dos qarmatas marca uma época de especial proeminência de vários grupos xiitas que angariavam cada vez mais poder, acelerando o colapso do controle do Califado Abássida na região das províncias próximas à Bagdá. Durante o período de 890-906, os qarmatas foram muito ativos na região do Iraque e nos desertos da Síria, tendo fundado um estado no leste da Arábia em 894, muitas vezes descrito como um local comunal e utópico.

Ocorre que o poder para iniciativas políticas estava escapando cada vez mais das mãos dos califas de Bagdá. Porém, próximo ao fim do século IX, as rebeliões que se baseavam em uma espécie de “antiga tradição nacional”, como a de Babak, foram cada vez mais perdendo força, procurando assim fazer uma “rebelião geral” semelhante ao dos primeiros anos do Islam promovidas por Kharajis ou Xiitas, com o foco de reformar o califado desde dentro através das classes governantes muçulmanas.

Mas ao invés de fazer uma oposição ao califado de maneira idêntica às primeiras rebeliões da história islâmica, as novas rebeliões tentaram se basear em espécies de “blocos” da população que poderiam ser considerados muçulmanos, mas cujas concepções políticas eram mais limitadas para interesses menos compreensivos e amorfos do que aqueles que até então poderiam preocupar a comunidade islâmica. Sob a denominação de “Qarmatas”, uma rebelião ocorreu nos desertos entre a Síria e o Iraque. Tais rebeldes possuíam um certo apoio dos camponeses locais, assim como dependeu muito do apoio dos beduínos.

O movimento continuou a ameaçar a hegemonia dos Abássidas por mais alguns anos, sendo que qualquer xiita poderia ser acusado de cumplicidade com os qarmatas, e consequentemente preso ou morto. Porém, o califado ainda tinha força o suficiente para manter o controle sobre as áreas centrais das províncias que dominava, sendo esse o último triunfo dos Abássidas sobre os rebeldes, muito embora eles tenham sido por algum momento a força mais poderosa do Golfo Pérsico e do Oriente Médio, chegando a coletar impostos de Bagdá e dos Fatímidas.

O roubo da Pedra Negra

No ano de 930 os qarmatas cometeram um ato que sujaria sua imagem para sempre, e que gerações de muçulmanos jamais iriam perdoa-los por isso.

Enquanto o líder qarmata Abu Tahir al-Jannabi lançava ataques devastadores por toda a região da Arábia, decidiu atacar também Meca durante o período do Hajj. Chegando lá, tal ataque culminou em um grande massacre de peregrinos, sendo os corpos atirados dentro do poço sagrado de Zamzam. O número de mortos normalmente é narrado como chegando aos milhares.

Não satisfeitos, roubaram a Pedra Negra contida na Caaba e levaram para sua nova capital, Hasa. Agora, pela primeira vez desde o nascimento da religião islâmica, um dos pilares da fé teria de ser interrompido pelo período de alguns anos. Tal tempo sem peregrinação durou cerca de oito anos, uma vez que os peregrinos se sentiam ameaçados e com medo de um novo ataque por parte dos qarmatas, que agora controlavam uma boa parte da Arábia.

De acordo com o Imam al-Juwayni, a Pedra Negra só seria devolvida 23 anos depois, em 952. Os qarmatas mantiveram a Pedra Negra como uma espécie de “resgate”, forçando assim os Abássidas a pagar uma enorme quantidade para que ela pudesse ser retornada ao seu local de origem. O califa Fatímida al-Mansur também fez um pedido formal para que pudesse ser devolvida, até que a mesma foi ensacada e enviada de volta para o local de que foi roubada, acompanhada de um bilhete dizendo: “Por ordem nós a tomamos, e por ordem trouxemos de volta”.

Fontes

HODGSON, Marshall Goodwin Simms. The Venture of Islam. The University of Chicago Press. 1974. Volume 1.
GLASSÉ, Cyril. The New Encyclopedia of Islam. Walnut Creek CA: AltaMira Press. 2008
RAHMAN, Mohanned. The Qarmatians: The world's first enduring communistic society. 2014.

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