Contexto histórico
Diversos conflitos internos no mundo islâmico abalaram suas estruturas anos antes desta importante batalha. Já próximo do fim do século X, o mundo islâmico se dividia cada vez mais devido às visões distintas de Islam: o sunismo e o xiismo, tendo como seus representantes o califado Abássida de Bagdá e os Fatímidas do Cairo, respectivamente.
Em Bagdá, após o califa al-Mutasim, os abássidas estavam em desordem. Exemplo disso é a série de sucessores incompetentes que não conseguiram administrar os vastos territórios que se estendiam desde o Oceano Atlântico até o rio Indo, deixando assim o Califado ineficaz e incapaz. Aproveitando a situação, os guardas turcos assumiram o comando do califado. Em um período de nove anos, entre 861 e 870, os turcos assumiram o comando e se livraram de três califas.
Após sua projeção para o norte da África e Egito (969), os fatímidas passaram a se expandir para a região da Síria e também para a Península Arábica. Os emires do Estado samânida (surgido 819 no Leste do atual Irã) não poderiam escapar. Exemplo disso é o caso de um dos emires samânidas, Nasr al Saeed, que governou Bukhara entre 914-943 e acabou favorecendo os fatímidas. Por conta disso, os khorasanis (povo da região de Khorasan), predominantemente sunita, ressentiram-se dos samânidas, deslegitimando-os aos olhos da maioria dos súditos.
Havia ainda a questão econômica. Os fatímidas desviaram com sucesso a rota comercial entre Índia e Europa a partir do Golfo Pérsico para o Mar Vermelho, resultando em um empobrecimento cada vez maior dos samânidas de Khorasan e dos buídas (xiitas duodecimanos) do Iraque. Conter os turcos (que ainda não eram muçulmanos) não era nada fácil e tinha seu preço. Aos poucos a dinastia samânida foi perdendo poder, desaparecendo por fim em 999. O seu desaparecimento abriu espaço para os turcos, tendo a tribo dos Kara-Khanis atravessado o Rio Oxus e ocupado Bukhara em 999.
Entre 950 e o ano 1000, um grupo de tribo turcas conhecidos como oguzes, habitantes das áreas ao norte do Mar Cáspio, aceitaram o Islam, migrando assim para o sul em Khorasan. Sob seu líder Seljuk, os turcos oguzes eram uma notável força de combate. Eles consideravam seu dever como o esforço no caminho da fé, sendo eles a introduzir o termo ghazi (oriundo da palavra árabe ghazza, ou esforço armado) para línguas faladas pelos muçulmanos. Nesse sentido, os abássidas de Bagdá, sob constante ameaça fatímida e bizantina, aceitaram de bom grado a proteção dos seljúcidas.
Foi nesse contexto, aproveitando a luta interna dos muçulmanos que os bizantinos ocuparam a Armênia e invadiram a Síria. O avanço bizantino se chocou com o implacável avanço turco que os tinha levado até as fronteiras da Anatólia.
Alap Arslan assumiu a liderança dos seljúcidas após a morte de seu tio Taghril, que por sua vez era filho de Arslan, filho de Seljuk. Os bizantinos tentaram reverter a maré, mas a derrota ocorreu através de uma série de escaramuças entre os anos 1063-1070. Desesperado, o imperador Romano IV Diógenes constituiu um enorme exército, formado por mercenários vindos de todo canto: gregos, russos, franceses e italianos, marchando assim contra Alap Arslan.
Desfecho
Momentos antes da batalha ocorrer perto do lago Van em agosto de 1071, os mercenários franceses brigaram com o imperador e abandonaram o local. A hábil defesa estática dos bizantinos não foi párea para os rápidos movimentos da cavalaria turca.
A derrota decisiva sobre o exército bizantino, assim como a captura do imperador Romano IV Diógenes foram fatores importantíssimos para enfraquecer a autoridade de Bizâncio na Anatólia e na Armênia, permitindo uma gradual “turquização” da Anatólia. Porém seus efeitos foram mais além: a derrota bizantina permitiu destruir o poderio grego na Ásia Menor, abrindo espaço para os agrupamentos turcos, que seguiram mais profundamente na Anatólia.
Apesar de tudo, Alap Arslan em um gesto nobre, envia o imperador de volta para casa em Constantinopla sob escolta militar.
Impactos da batalha
Proprietários de terras gregos fugiram e os camponeses aceitaram o Islam, juntando-se assim ao avanço implacável dos turcos. Era apenas uma questão de tempo antes que os ghazis atravessassem o estreito de Dardanelos para a Europa, uma vez que vários grupos de ghazis já estavam surgindo, cada um marchando na direção de Constantinopla.
A derrota alarmante dos bizantinos em Manzikert ecoaram no Ocidente latino, tendo os gritos de socorro por parte do imperador Alexius e seu filho Diógenes atingido os ouvidos da Igreja Romana, e 25 anos depois o papa Urbano II proclamar a primeira cruzada em 1096.
Desta feita, Alp Arslan conseguiu uma conquista que o próprio Muawiya e sucessivos califas abássidas não conseguiram em 400 anos: adentrar a Anatólia com os exércitos islâmicos.
Bibliografia
Grant, R.G. (2005). Battle a Visual Journey Through 5000 Years of Combat. London: Dorling Kindersley.